Você está acostumado a avaliar sua empresa ou seu
time pelo resultado final? E puní-lo ou premiá-lo a partir do resultado? Se
sim, você está agindo dentro do padrão dualista que domina as organizações. A
visão de Alexandre Fialho, presidente da área de consultoria e liderança da
Korn/Ferry e um dos keynote speakers que abriu a segunda edição do IT Business
Forum 2012, realizado de 06 a 10 de junho, na Praia do Forte (Bahia), reforça
um mundo globalizado cada vez mais pautado pela perspectiva pluralista. Na apresentação,
executivos de toda a cadeia de TI brasileira escutavam atentamente o recado que
promove uma verdadeira ruptura de paradigma.
A provocação começa quando Fialho dispara: “você
gostaria de ser o CEO da Foxconn, caso os funcionários tivessem mesmo cometido
o suicídio coletivo que prometiam fazer como resposta as represálias que
viviam?”. Assim, o especialista coloca na pauta das organizações que o controle
não está mais apenas nas mãos do corpo diretivo da empresa: funcionários e
consumidores detém, hoje, o poder compartilhado. “Se isto acontecesse, a
empresa estaria arruinada. O poder antes focado no CEO está disseminado, está
plural em perspectiva”, aponta.
Embora as organizações ainda detenham o poder do
apontamento do objetivo e como fazê-lo, na visão de Fialho, esta é uma decisão
que permeia o cognitivo das pessoas que gerenciam as empresas. “A estratégia e
os planos são muito importantes, mas estão no nível consciente apenas do time e
das pessoas. O fundamental não está aí. Há questões que não se baseiam no
cognitivo. Não conseguimos ser tão poderosos quanto aos rumos dos nossos
planos. No dia a dia somos inundados com novas informações”, avalia o
consultor, sugerindo que,nesta situação, há duas alternativas: fechar os olhos
para esta realidade, que o levará a massificação de comportamento, ou lidar com
esta questão.
“Em uma perspectiva histórica sobre ética, de forma
simples, podemos definí-la como um ato que tem uma consequência. A herança do
modernismo traz o consequencialismo como base de avaliação. Eu vou ser
considerado ético pelo resultado que minha ação produz. Um resultado bom, me
torna ético. Se o resultado é ruim, não fui ético. Vamos pensar no objetivo
fim…se ele não for atingido, avaliamos as pessoas como ruins; se foi, avaliamos
como boas. Classificar a atitude pela consequência do ato é não avaliar a forma
e não ver a intenção do ato. Este processo é que faz diferença quando se quer
construir uma plataforma ética. Nós só premiamos e punimos a partir da
consequência que a gente quer. Mas onde está a essência e o propósito?”,
dispara.
A partir deste momento, Fialho introduz a ideia do
existencialismo e força a reflexão sobre significado, que para cada um, mesmo
dentro da organização, é diferente. “As pessoas não existem em si, mas só na
dimensão dos significados. Antes, os significados eram dados de maneira padrão,
havia uma universalização da estética (visão). A existência de alguma coisa
está atrelada ao significado que damos a esta coisa. A nossa própria existência
está atrelada aos significados que damos a ela!”. Em contrapartida, no
mundo atual, a pluralidade existe e, como exemplo, o consultor lembra que
há alguns anos só eram aceitos os heterosexuais, hoje, a pluralidade sexual é
aceita e há os bisexuais, homo, trans, pans etc.
Então, como coexistir com o que é plural? “Só com
liberdade, autonomia e coragem para não seguir o padrão, a massificação. Dar
lucro de um bilhão é padrão. Mas, para alguém significa um bônus maior no final
do ano, para outro, dominância do mercado em que se atua, e por aí vai…”.
É preciso olhar os significados que só se afloram
em momentos de dificuldade. E brilhantemente, Fialho lembra que, muitos países
europeus, que compartilhavam objetivos da Grécia no Bloco Europeu, hoje, estão
pouco se importando se a Grécia vai quebrar ou não. “Um objetivo em comum não
basta. Os laços se quebram se os significados vistos. Senão vocês vão estão
existindo superficialmente, integrado, mas sem olhar para a pluralidade. E isto
pode acontecer dentro da sua casa, da sua família, e dentro da sua
organização”. Buscar o significado e compartilhá-lo torna a inovação e o
alcance de metas que satisfazem a todos possível.
Sair da teoria de que cuidar de pessoas é
motivá-las – porque produzem mais, obviamente – é um passo significativo para
empresas que decidem olhar para este novo e promissor modelo de gestão.
“Ninguém consegue trabalhar com uma pessoa infeliz. Trabalhar só pelo sustento
não faz mais parte deste novo mundo”, afirma Fialho.
Ao final, o especialista lembra que, em um mundo
plural, não cabem julgamentos a partir de pontos de vistas isolados.
“Corremos o risco de sermos arrogantes no mundo plural, queremos impor o
nosso sistema, sem olhar para o outro”, conclui.
O speach de Alexandre Fialho
sucedeu a palestra de Chico Teixeira, que também foi
keynote speaker de abertura do encontro.
Fonte: informationweek.com.br